O número de pessoas que tem adotado o distanciamento social na Grande São Paulo tem caído dia após dia e baixou para 49%, abaixo da taxa considerada ideal, de 70%, para tentar impedir o avanço rápido da doença.
Levando em consideração que apenas metade das pessoas (50%) mantenha a quarentena, ou seja, a manutenção desse cenário, o número de mortos na Grande São Paulo deve ser mais de 20 mil até julho, segundo cálculos da DataRisk, empresa de desenvolvimento de modelos preditivos.
A projeção levou em consideração a população da região, de 20 milhões de pessoas, classe econômica, faixa etária, leitos de UTIs e respiradores disponíveis, entre outros fatores inerentes ao ritmo de disseminação da pandemia observados até agora.
A contínua disseminação do novo coronavírus em São Paulo e a redução na adesão do distanciamento social levou o governador do estado, João Doria, a anunciar a prorrogação da quarentena até 10 de maio.
O isolamento social começou a vigorar no estado de São Paulo em 24 de março, foi prorrogado em 8 de abril e estava previsto até 22 de abril. No período de quarentena, só estão autorizados a funcionar os serviços considerados essenciais como os de logística, segurança, alimentação e saúde.
O isolamento é medido pelo Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi-SP), operado em parceria entre operadoras de telefonia móvel e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da Universidade de São Paulo (USP).
Jhonata Emerick, co-fundador da DataRisk, afirma que o isolamento social de 70% da população poderia reduzir o número das potenciais mortes na Grande São Paulo para um patamar entre 6 mil e 13 mil vítimas fatais. Ainda assim, a capacidade dos hospitais devem se esgotar entre abril e maio.
Se adotado um modelo mais restrito, o confinamento, com 90% das pessoas em isolamento social poderia reduzir os mortos pelo coronavírus para nível entre 4 mil e 8 mil vítimas.
De acordo com Emerick, se fosse possível testar a população em geral, e não apenas aquelas que já apresentam sintomas do novo coronavírus, seria possível prever com maior antecedência a progressão da epidemia.
Segundo o secretário estadual de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, o estado conseguiu diminuir a fila de pessoas esperando por resultados de testes no estado. Na semana passada, a fila estava em 17 mil e ontem estava em 9,5 mil - ainda longe do ideal. A expectativa de Germann é zerar a fila de processamento dos exames na próxima semana.
São Paulo é o epicentro das contaminações por coronavírus no Brasil, com 12.841 casos confirmados e 928 óbitos, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados na tarde de ontem (17).
Efeitos da quarentena
Se nenhuma medida de contenção da pandemia tivesse sido adotada, as projeções da DataRisk apontam que o número de mortos chegaria a até 240 mil na Grande São Paulo e mais de 10 milhões de pessoas - metade da população da região - seria contaminada.
"Sem as medidas de contenção, o Sistema Único de Saúde (SUS) entraria em colapso total em abril, um sistema que na sua normalidade já possui muitas restrições. A capacidade de atenção seria insignificante perto da demanda, causando um alto número de mortes, especialmente por falta de ventilação. Poderíamos somar mais mortes que qualquer um dos países atingidos pelo covid-19”, explica Emerick.
O distanciamento social imposto pelo governo de São Paulo deu algum fôlego para o sistema de saúde público e privado.
“Falamos que o pico [de contaminação] ia ser em abril. E agora falamos em maio. E isso é uma boa notícia, reflete que as medidas tomadas [de isolamento] foram efetivas. Desde o primeiro momento dissemos que o objetivo era achatar a curva e tentar evitar pico de ascensão muito grande", disse o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, em coletiva de imprensa ontem (17).
Embora o estudo da DataRisk englobe apenas a região da Grande São Paulo, as cidades do interior também devem cumprir o isolamento.
“Há a falsa impressão de que a doença se limita à Grande São Paulo”, afirmou o infectologista David Uip. “O vírus está entrando em todo o interior, felizmente com menor número de casos. E também na área do litoral de São Paulo", disse.
De acordo com o médico, se forem ampliadas as medidas de confinamento, os resultados melhoram.
Nesse sentido, o levantamento conduzido por Emerick mostra que o término precoce do isolamento social pode ter efeito devastador, rompendo um ciclo de resultados do trabalho iniciado e praticamente anulando o efeito das medidas anteriores.
Por outro lado, a manutenção prolongada de um distanciamento indiscriminado também não é uma solução, pois deixaria parcelas da população que ficaram isoladas desprotegidas de uma segunda onda de contaminação.
(Com Agência Brasil)